(por Vitor Cafaggi)
Acho difícil não elogiar os Cafaggi, apesar de que mais li trabalhos do Vitor (autor dessa Graphic MSP além de Valente e Puny Parker) que da Lu (que só li as Graphic da Turma da Mônica que ela divide com o irmão). Sendo assim, já vou declarando que Franjinha é a melhor edição dessa leva mais recente de gibis “autorais” (aspas, porque o dedão editorial você sente aqui e ali) com os personagens do Mauricio de Sousa: Franjinha, geniozinho infantil, com tendência à inventos, está deixando de ser criança e essa passagem de fases da vida afeta até ele. Essa é uma história em que há conflitos, mas não há O Conflito, praticamente nem como metáfora¹: as mudanças da vida vão acontecendo organicamente, o personagem vai tomando pequenas decisões que o levam para um rumo mais acertado para a vida, pequenas angústias que independem dos personagens se resolvem sozinhas.
Gostei do roteiro, da interação acolhedora entre os personagens², da arte/cores lindas, dos diálogos, das pequenas cenas quebrando e ao mesmo tempo acrescentando muita coisa não dita ao clima geral da história, da pequena surpresa perto fim (concordo com o prefácio: não veja as páginas finais) e da sensação final de que toda uma situação incômoda foi bem fechada, deixando o personagem pronto para seguir adiante.
# Veredicto: não é um Jeremias (e olha que ele tá no gibi), mas vale o tempo investido :) Um slife of life bem construído, praticamente.
# Bom: a arte, o roteiro, personagens. Olha estas cores!
# Mau: sou uma criança dos anos 80, mas para mim já deu essa mania de referencias as obras pop da época. Outro ponto é que, convenhamos, os personagens do Maurício são bastante vagos, com meia dúzia de características e muito espaço vago onde um bom autor insere praticamente o que quiser para contar uma história. Aqui não é diferente: tire a parte "mini-cientista (estereótipo)" e mais uma ou duas peculiaridades importadas da matriz desse Franjinha e o personagem praticamente continua andando sozinho. E, por fim, o inevitável: quanto mais do autor eu leio, mais começo a notar seus truques narrativos. Tem muito de Valente aqui :P
96 páginas • R$ 39,90 • 2022 • revista na página da editora
¹ Eu Mato Gigantes é excelente, mas vai no sentido contrário aqui.
² a mãe do Franjinha me lembrou muito a da Ruri