Assim: ano passado assisti Cavalo de Fogo, cartoon dos anos 80 e lembrei de uma HQ americana com tema que tangenciava: Ametista. Aí decidi ler e em ambas as histórias, fiz extensos comentários no twitter que poucos se importaram.
Mas me diverti, apesar de ficar com aquele gostinho de “posso fazer melhor” aqui e ali. Até rabisquei algumas anotações para uma história nessa vibe.... e ficou.
Esse ano, uma sequencia de eventos me fez trombar com um mangá de garotas mágicas, o que me bateu vontade de visitar direito o gênero: daí peguei para ver Madoka, um anime famoso por desconstruir as mahou shoujo (pois é, devia ter começado com Sailor Moon, que nunca vi por causa de passar no horário da escola...) e ainda não acabei de assistir :P Mas isso foi o estopim para fazer pesquisas na internet sobre RPGs do gênero, porque esse tipo de manual costuma dissecar bem o assunto abordado, mas não curti nada do que vi, nem o Glitter Hearts (que saiu por aqui). Mas volta e meia via nos reddit e foruns da vida havia outro anime citado junto de Madoka, como pontos fora da curva nesse estilo de história: Nanoha.
Bom, o que tinha a perder além de tempo, espaço no HD e integridade do meu sistema operacional com os vírus adquiridos em sites suspeitos de download? :P *
Magical Girl Lyrical Nanoha é um anime de 2004 e já aviso que de “lyrical” tem nada: ninguém canta no desenho e talz :P
De resto, vocês conhecem o começo desse tipo de história: menina encontra um bichinho, que por acaso tem ligação com alguma magia, que por acaso está numa missão de busca de uma série de algo e que por acaso a menina tem alguma vocação mágica. Por sorte, o bichinho é tão confiável e imaturo que nem a criança (pobre Madoka :P) e Nanoha passa os primeiros episódios caçando pedras místicas e enfrentando o monstro da semana com a ajuda de um furão falante.
Até que, perto do meio da temporada, surge uma rival, a escala de poder da personagem e desafios sobem, aparece forte o fator ficção-científica da série e a história dá uma guinada. Pra ser sincera, tem nada de novo aqui, aparecem vários clichês velhos de guerra pra quem conhece anime, mas diverte e você acaba realmente se preocupando com os personagens, apesar de estar na cara que é aquele tipo de história que ninguém morre no fim. Inclusive, a maioria das destruição da história é ignorada no episódio seguinte ou escondida por um campo mágico durante as batalhas - um recurso que é mau explicado, mas que é bem conveniente pro roteiro ^^
(Na verdade, a menina se machuca feio algumas vezes, até indo para o hospital, mas os pais dela não a prendem em casa por conta disso :P)
Além de Nanoha, uma doce menina com alguns traços de personalidade que me preocupariam numa criança real (tipo, ela é perseverante, quase obstinada) e Yuuno (o furão, que na verdade é um humano disfarçado, arqueólogo e, concidentemente, com 9 anos (!!) de idade), também se destacam na série as amigas dela (mesma idade, mas como todo mundo na série, não se comportam como pessoas da idade delas :P)(fora que são aquelas “pessoas ricas de anime”, em que dinheiro e luxo são praticamente um adereço pra enfeitar a ficha de personagem), a família (falo delas a parte, logo abaixo) e os vilões da temporada: Fate, a rival, a mãe dela e Alph, uma moça-lobo que serve à menina. Esse trio tem uma história de tragédia, loucura, dor abusiva e mais clichês mal-aplicados, mas fazem a história a andar eficientemente. De fato, é impossível não shippar Fate/Nanoha até o décimo terceiro episódio do desenho, por mais que você saiba que as duas tem NOVE ANOS de idade.
E aqui, falo de uma coisa que me incomodou muitas vezes: nudez, insinuações, panty shots e afins, seja com as adultas da série, seja com a protagonista menor de idade =_= Não é exatamente “culpa” de Nanoha, isso sempre aconteceu em anime - especialmente em cenas de transformação - o que não significa que devia existir ou que devia me sentir confortável com isso. E a coisa piora ao saber que o estúdio responsável fazia jogos eróticos por perto da virada do século, e num deles Nanoha surgia brevemente numa cena não-hentai (ao que parece) e acharam o visual da personagem legal o suficiente para arriscar um anime próprio. E para piorar mais ainda, a família toda (pais e irmãos) dela vem do tal jogo e só tive paz ao saber que: na cronologia do game, o pai dela morria antes da história começar e que uma das amigas ricas da menina era um fantasma. Quer dizer, são histórias semelhantes, mas não são a mesma, diminuindo a sensação que o cast de uma franquia pornô migrou silenciosamente para um desenho de garotas mágicas :P
Era isso o que queria falar da família dela acima. Mas tem outro traço mais inocente neles que achei bem errado: eles deixam a menina andar sozinha pela cidade tarde da noite, aceitam sem dramas ela trazer um animal desconhecido para casa e, minha nossa senhora da suspensão de descrença, em certo ponto Nanoha fala pros pais “vou sair de casa por uns dias porque tenho coisas para resolver, e não posso falar para vocês o que é” e ELES ACEITAM DE BOINHA?! O.o
# Veredicto: Começa fofo e vira outra coisa. Me divertiu, mas tenho lá minhas ressalvas.
# Bom: as batalhas, o escalamento de poder é uma coisa linda de se ver :P Fate também tem um desenvolvimento que gostei muito (por outro lado, Nanoha é um monolito imutável nesse ponto), apesar do relacionamento com a mãe dela chegar a uns extremos que só faz sentido como clichê ruim
# Mau: sexualização totalmente //desnecessaura//, o episódio das termas é quase que ofensivo. Também pede demais de descrença algumas vezes, fora a sensação que o roteirista tinha bem pouco planejado quando começaram a fazer o desenho :P Ah, e tem as malditas mechas de cabelo espetados que chegam ao ridículo em alguns personagens.
13 episódios • 2004
* um problema que não contava na caça aos episódios foi meu toc :P Achei doze, só faltando o nono. Revirando os grotões da rede, achei um pacote com onze, faltando o três e o seis, mas em outro formato. Perdi o resto da noite tentando fechar uma das coleções e no fim acabei desistindo porque não achava, mas ao menos tinha a história completa.
Agora um problema que contava é, por causa da série ser antiga e já ter saído da zona de hype, não achar facilmente o desenho, ainda mais em boa qualidade. Até quee tive sorte e achei legendado em pt-br :P
Resenhas mais legais que a minha, em inglês: deus ex magical girl • Yuri Reviews • Wikipedia