Sábado passado, passei numa Kalunga e vi ovos de páscoa Oreo sendo vendidos bem barato, já que a data passou e eles estavam chegando ao fim da validade. Pensei em comprar, mas como estava indo para a casa de meus pais, deixei para depois.
Oreo, nosso coelho... melhor, “toelho”, como o chamávamos também (tem uma piada maldosa por detrás disso, envolvendo “tu” e “tota tola”) chegou em casa pouco antes da páscoa de 2022. Não tivemos muito tempo (além de grana) para comprar um ovo de páscoa com o nome dele e tirar uma foto juntos, ovo e nosso toelho de páscoa. Nos dois anos seguintes o preço abusivo desses chocolates ovoides foi um balde de água fria em fazer a brincadeira. Quem sabe, agora ia? Se não fosse, ficaria para outra oportunidade...
Quando chegou, Oreo era arredio. Pior, não foi bem recebido pela Faq, nossa chinchila mais velha: ela tinha acabado de dar cria quando ele surgiu em seu território e provou ser uma mãe superprotetora: espantava ele, sempre de boa, e até ficava em pé para fazer xixi nele. Fiona, uma das crianças, começou a fazer o mesmo por imitação. Certa vez, Faq apareceu com um machucadão na barriga e temos certeza de quem foi, revidando de uma mijada.
Nunca menospreze as patas traseiras de um coelho.
Eu sempre o segurava de costas para mim, porque o toelho dava vários coices, fortes que nem socos de mão ossuda, e com unhas enormes. E, ao soltar, era um desespero para sair correndo, precisava de alguma estratégia de eu não me machucar no processo.
Era pequeno, cerca de 1kg, minha mãe achava que ele era enorme pelas fotos e se decepcionou ao ver o tamanho do bicho. Por outro lado, muitas vezes que eu ia visitar meus pais, ela me fazia voltar com montes de hortelã para o fofinho de pelagem preta com nariz e palmas brancas, além de suas charmosas suíças. Só faltava uma cartola e um monóculo para Oreo compor um visual.
Ao que conseguimos apurar, Oreo veio de um resgate de vendedores ilegais. Depois, no abrigo onde ele estava, houve uma excursão de crianças que foi transmitido por uma emissora de TV e nesse momento uma delas batizou o toelho, por causa de sua combinação de cores. Procurei muito e não encontrei essa matéria :|
Meses depois minha namorada assumiu a tutela dele, assinando termo da prefeitura e tudo o mais. Ele veio para nós castrado, chipado e fofo.
Oreo passou um tempão sendo arredio: qualquer movimento ele corria (cara, e como coelhos correm!!) para se esconder, era um desespero ao ser pego (segurar de costas, evitar as patas traseiras), mas esquecia completamente o medo quando via comida... até acabar com tudo e se esconder de novo! Mas, nos últimos meses, o coelho estava cada vez mais gostoso: explorava bem mais a casa quando saia do quarto...
Deixa eu explicar isso: a quadrilha de quatro chinchilas fica numa gaiola, só eram soltos de noite, com a porta trancada - temos gatos, né? - e Oreo nem sempre estava fora desse quarto (com os chins trancados) porque nem sempre dava para supervisionar o toelho: tivemos de transformar parte de casa, tipo pondo grades nas estantes, depois de alguns livros aparecerem roídos... e imaginem o desastre se ele encontrasse o fio da geladeira ou da máquina de lavar.
No quarto ele tinha ração, feno a vontade e uma gaiola de transporte que virou toca (inclusive, Oreo abriu uma janela lateral nela com os dentes). Às vezes os gatos entravam lá e o relacionamento entre eles era de boas, Oreo era meio que tratado como o terceiro gato da casa, e esse era outro de seus apelidos :P
Mas, voltando, em relação aos humanos, o terceiro gato da casa sempre teve medo e nos últimos meses estava gostosamente mais próximo. Quando solto, seguia e ia ver onde Lia estava, uma vez peguei ele e o soltei em seguida, foi quando parece que Oreo entendeu que ser pego não é ruim, é carinho (mas ainda tinha muito medo). Aos poucos o felino fake estava se aproximando e se aproximando, os seus avanços (e seus aprontamentos) eram um dos assuntos preferidos entre eu e namorada.
Hoje cedo, segui minha rotina de tomar um café com leite após acordar, preparar a marmita do almoço, varrer a sala, limpar a areia dos gatos. Quando entrei no quarto dos dentuços para catar feno solto e recolher cocô de chins e de coelho, o encontrei deitado no chão.
Mesmo não sendo de uma espécie tão intensa quanto cães, ou gatos, Oreo deixou um buraco no coração da gente maior que seus dentes seriam capazes de fazer (mas tentaria).
Tinha acabado nosso tempo com o toelho fofo, de suíças, com nome de bolacha recheada e coração de constelação.
(Queria nosso toelho de volta, sabe? :'( )
Discussão
Dois comentários tardios, pq sempre a gente se lembra de por mais alguma coisa depois de terminar um texto:
1) por causa da cor escura, e da sensibilidade porca de algumas câmeras de celular, era sempre complicado tirar fotos à altura da fofice de Oreo. Ele tinha umas poses de descanso “divando” (tipo a do começo do texto) que sempre perdíamos de registrar pq ele se assustava e a câmera demorava em disparar.
2) existe uma maldição em cuidar de animais: só os donos sentem a dor da perda, pros outros soa estranho e bobo (pense em “hoje estou de luto por que meu coelho morreu” e sinta a estranheza social da construção). E mesmo as alegrias não são transmitidas tão perfeitamente para qualquer um, com sorte para outros “pais” de pet.